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Grupos Temáticos

Grupos Temáticos

Grupo Temático 01
fetiches e fronteiras: o que habita a fenda das artes?

mediação: Bruno Novadvorski e Íra Barillo

Este ensaio [GT] é um argumento em favor do prazer da confusão de fronteiras, bem como em favor da responsabilidade em sua construção.1

Quando falamos de fetiche em/e artes, o fetiche da repetição, da objetificação, do elitismo sempre aparece apontando as formas prejudiciais - que excluem - de ação no mundo; mas fetiche é também o desejo inescapável, apreciamos os fetiches, vivemos nossos fetiches, buscamos repetidamente por eles. Fetiche é bom e é ruim, é erótico e é pornográfico, é natural e é artificial. Natureza molda humanos que moldam a natureza (Evando Nascimento, 2021)2, o pau é dildo que imita o pau que serve de dildo (Paul Preciado, 2017)3, somos fetichizados e fetichizamos e amamos fetiches. É na profundeza das fendas que podemos ver a complexidade das contradições e conviver com elas.

A fenda é: o que tem na borda da arte? Quando se contorna o significado do que é fazer arte e quem é artista, o que sobra pro lado de fora? E o que fica no meio, na borda, insistindo em ser/fazer arte mesmo sem caber? o que cabe na fenda entre o erótico e o pornográfico? e entre um corpo natural e um corpo artificial? e entre um sexo natural e um sexo artificial?

Serei um monstro sexual normalizado pela academia dentro da selva de cimento?

Serei uma vida castigada por Deus por invertida, torta e ambígua?

Serei um homossexual ornamentadamente empetecada, feminina, pobre, com inclinação sodomita capitalista?

Serei uma travesti penetradora de buracos voluptuosos dispostos a devires ardentes?

Ou serei um corpo em contínuo trânsito identitário em busca de prazer sexual?4

Perceber a fenda, assumir que não e dizer que sim, des-construindo as lógicas que dominam e elaboram-se a partir do não fetiche e do não prazer, fazem das fronteiras tempos e espaços, ou melhor, fendas em que habitam Orlandos e suas subjetividades monstruosamente políticas. buscamos nessas fendas discutir a/com profundidade a construção dos fetiches e suas contradições. trabalhos que ficam com os problemas das discussões sobre quem define o que é arte, o que é humano, o que é normal, e principalmente, sobre/a partir de quem sobra dessas definições e escolhe negá-las. propomos nos alojar na fenda - entre o trabalho acadêmico e a experiência de vida - para realizar as discussões deste GT.

[1] HARAWAY, Donna J. Manifestly Haraway, Minneapolis, US: 2016. 2009, p. 37.
[2] NASCIMENTO, Evando. O pensamento Vegetal. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2021.
[3] PRECIADO, Paul B. Manifesto contrassexual. São Paulo: n-1 edições, 2017.
[4] PERRA, Hija de. "Interpretações imundas de como a Teoria Queer coloniza nosso contexto sudaca, pobre de aspirações e terceiro-mundista, perturbando com novas construções de gênero aos humanos encantados com a heteronorma".  Revista Periódicus 2a edição novembro 2014 - abril 2015. (disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/revistaperiodicus/article/view/12896/9215), p. 4.

Grupo Temático 02
impróprio para menores. classificação 18+

mediação: Christian de Sousa & Darío Marroche

Quantas exposições você já foi e quando tem alguma obra com um pitaco de explícito já vem aquela plaquinha: proibido para menores de 18 anos? Quantas violências cabem nesta plaquinha? Qual a verdadeira função desta placa? É para proteger quem? O sistema de arte? Artistas? Público? A presença dela é capaz de evitar, de fato, problemas para as instituições e/ou artistas?

Lembremos de um fato não tão distante: em 2017, no Brasil, Wagner Schwartz sofreu censura, perseguição, cancelamento dos ultraconservadores e defensores da moral e dos bons costumes – contém ironia – por conta da performance La Bête, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Os defensores da família de bem o acusaram de pedofilia, pois uma mãe acompanhada de sua filha tocaram no corpo desnudo do artista e o fragmento deste vídeo caiu nas mãos de políticos sem escrúpulos, pessoas odiosas que usam do ódio para se manterem na mídia e ganharem fotos com o velho discurso da defesa da família, incentivando seus fiéis seguidores a tornarem a vida do artista um verdadeiro tormento. Detalhe: a placa informando que a performance era para maiores de 18 anos e menores só poderiam estar presentes acompanhados de seus responsáveis. No entanto, mesmo a presença da plaquinha não foi suficiente para os odiadores de plantão e todo um teatro foi montado para transformar um trabalho artístico em palco para a violência.

De repente, Wagner Schwartz foi transformado num criminoso. E não no autor de qualquer crime, mas num “pedófilo”, uma das figuras que maior repulsa causa na sociedade. Sem vítima, sem fato, portanto sem crime. Em nenhum momento, seus linchadores, os anônimos e os públicos, lembraram que estava ali uma pessoa, com uma história, com uma vida e com afetos. Não importava. (Eliane Brum, 2018)1

Para este GT, convidamos vocês a trazerem seus trabalhos que o sistema de arte consideraria proibido para menores de 18 anos. Aquele seu trabalho que ficaria em uma salinha separada com a plaquinha 18+. Tragam suas escritas masoquistas, sadomasoquistas, pornográficas, eróticas, pornossexualigráficas, fetichistas para trocas prazerosas em nossa sala BDSM. O chicote está pronto. Venha sem medo.

[1] Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/12/opinion/1518444964_080093.html).