Apresentação
Como parte da programação de cinco anos do projeto Ars Sexualis, decidimos retornar aos materiais editoriais produzidos até o momento. Ao rever os catálogos das mostras digitais, percebe-se um total de 123 obras já expostas de 39 artistas e diversos suportes e materialidades artísticas. Levado pelo questionamento: “afinal, o que são imagens Ars Sexualis?”, Sue Gonçalves, um dos idealizadores do projeto, selecionou algumas obras que considera significativas dos anos anteriores das mostras digitais. Junto a este movimento, o curador sentiu a necessidade de ampliar o olhar sobre a complexidade que seria demarcar imagens e obras Ars Sexualis e convidou Lael Peters, artista já participante de outra mostra, para trazer novos nomes e visualidades para o debate. Esta união deixou evidente que Ars Sexualis são obras que elevam a sensação do desejo e do contato. Pele - Corpo - Pele apresenta o desejo de desejar, a compulsão pelo tato e o toque.
Retornando ao início da formação humana, é possível observar a criação de diversas dermes para conter o desenvolvimento do corpo. Todo corpo vivo precisa de camadas (pele) que o delimitem do ambiente e nós estamos repletos delas. Além de conter, separar e criar profundidades, é a pele que toca o outro. Não que precise de outra pessoa, o outro aqui é o que existe fora, o que vem do mundo e atinge nossa pele.
Indissociável do desejo, a sexualidade pode se materializar em um jogo de esconder e mostrar. O primeiro calafrio sensorial surge ao transpassar barreiras, abrir aquilo que estava semi fechado. Nessa brincadeira surgem tensões, tesões, fluidos, dna, cromossomos, individualidades, duplas e grupos. É explorando o mundo que o corpo sente e desenvolve sua estrutura única. Na rua, em casa, na mídia, no glitch, usando objetos, sendo objetos, devorando objetos, cruzando e interferindo na pele habitada.
Ao mesmo tempo, há também a ambiguidade na própria virtualidade em que a exposição se materializa. O desejo do corpo presente se depara com a impossibilidade virtual. Um conjunto de luzes, códigos, telas, sistemas, softwares e pixels que acabam sendo mais camadas, ou “peles” que separam os corpos que desejam tocar e ser tocados.
Sue Gonçalves & Lael Peters
curadoria
de 04 a 30 de setembro de 2025
Artistas
BÁRBARA BANIDA
CÉU ISATTO
CHRIS, THE RED
DARIANE MARTIÓL
GABRIEL PESSOTO
LEON FRANZ
MARINA MACEDO
MONIQUE HUERTA
NAZÚ RAMOS
PC
RAFA CURTINOVI
TAUANE
THIAGO PRADO
Curadoria
Sue Gonçalves de Mello
Pessoa trans não binárie, mestrande em História, teoria e crítica de arte pelo PPGAV/UFRGS e bacharel em História da Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É organizadore do Ars Sexualis - Seminário Internacional de Artes Visuais e também idealizadore do Projeto Ars Sexualis. Fez parte do Núcleo Educativo da Casa de Cultura Mario Quintana, atuando como mediadore, e atualmente faz parte do Núcleo de Produção da mesma instituição. Também é crítico de arte, produtore e curadore independente. Atualmente é um dos críticos vinculado ao Nervo Crítico, projeto de extensão universitária do Departamento de Artes Visuais da UFRGS. Fez parte do corpo editorial da revista acadêmica Ícone: Revista Brasileira de História da Arte entre 2020 e 2022. Entre 2019 e 2022 foi Bolsista de Iniciação Científica (PIBIC/UFRGS), e entre 2022 e 2023 foi Bolsista (PIBIC CNPq). Em seu trabalho de conclusão de curso tenciona os conceitos de obscenidade e censura nas artes visuais brasileiras. Também desenvolve pesquisas sobre a obscenidade e as representações das sexualidades nas artes visuais (ARS SEXUALIS) tendo foco principal nas sexualidades dissidêntes do Sul Global.
Lael Peters
Artista graduando em artes visuais pela UFRGS. A partir de sua identidade e visão de mundo, explora zonas intermediarias de transição. Entre o falecimento dos homens de sua família (pai e irmão) e a hormonização corporal, o artista busca compreender seus desejos através de imagens fragmentadas. Em sua primeira coletiva, recebeu o prêmio de artista destaque — da Associação Chico Lisboa — na mostra “Fora da Margem” (Galeria DMAE, 2022) com a série de fotografias “Recortes para dar nó”, que retrataram sua compreensão de gênero durante o isolamento da pandemia. Participou da exposição “Desvio” junto a uma equipe exclusiva de pessoas trans para compor a programação do mês da visibilidade de 2023 na CCMQ. Em cada oportunidade de exposição, Peters vai em direção ao experimental, apresentando obras de diferentes materiais, em busca do movimento fragmentado, das transições e transparências. Em 2025 realizou a curadoria da exposição coletiva “Um lugar como nenhum outro”. A mostra foi o resultado do primeiro Programa de Acompanhamento e Exposição da Casa Musgo. Em 2024 realizou, juntamente com Céu Isatto, a exposição “Nham Nham Nham”, uma coletiva sinestésica que relaciona o olhar e o paladar com obras de jovens artistas e o acervo do MACRS.